
Fonte foto: Professor Agenor Sarraf
PORTEL, MARAJÓ — Em uma carta emocionante e incisiva, entregue no último dia 22 de abril ao Ministro da Educação, Camilo Santana, o professor universitário e intelectual marajoara Agenor Sarraf Pacheco, da Universidade Federal do Pará (UFPA), lança um apelo direto e comovente: a criação do programa “EJAI – Alfabetiza Marajó”, voltado para erradicar o analfabetismo entre jovens, adultos e idosos do arquipélago do Marajó.
A carta, que mescla dados estatísticos com referências culturais e históricas, evidencia a urgência da causa. Com mais de 50 mil km² e cerca de 640 mil habitantes, o Marajó abriga uma das mais ricas biodiversidades do planeta, mas também um dos maiores índices de analfabetismo do país. Segundo dados do IBGE citados por Sarraf, mais de 60 mil marajoaras com 15 anos ou mais não sabem ler nem escrever.
Marajó: riqueza natural, desigualdade educacional
Na correspondência, Sarraf destaca a complexidade histórica e cultural do Marajó, território habitado por civilizações há mais de 3 mil anos antes de Cristo. “Somos filhos da mãe-terra amazônica, portuguesa e africana”, afirma o professor. Apesar de sua herança rica e diversificada, a região segue marginalizada nos investimentos educacionais.
Citando dados de 2023 do próprio Ministério da Educação, o professor revela que em municípios como Anajás, Afuá e Portel, mais de 20% da população é analfabeta. Em Breves, maior município da região, o número passa dos 13 mil analfabetos. A média geral no arquipélago chega a 18,1% de analfabetismo na região das Florestas e 9,97% nos Campos Marajoaras — números muito superiores à média nacional de 7%.
Elogios à trajetória do Ministro e um pedido direto
A carta também reserva espaço para elogios à atuação de Camilo Santana no Ceará, estado que se tornou referência nacional na educação básica. O professor marajoara reconhece as políticas exitosas de alfabetização, tempo integral e valorização do magistério lideradas pelo atual ministro entre 2015 e 2022, quando governava o estado nordestino.
É nesse contexto que Sarraf propõe a criação do EJAI – Alfabetiza Marajó, um programa específico de educação de jovens, adultos e idosos, com suporte técnico, pedagógico e financeiro da União. A iniciativa, segundo ele, deve nascer a partir das raízes culturais e sociais marajoaras, unindo as sabedorias ancestrais à pedagogia moderna e às novas tecnologias.
“Com o Ministério, o sonho é possível”
A carta encerra com um tom poético e esperançoso, evocando o escritor amazônico Dalcídio Jurandir e reforçando o compromisso do autor com sua gente:
“Sozinhos o sonho poderá ficar no papel. Com você e o Ministério da Educação realizaremos o maior movimento de alfabetização já realizado na história do Marajó.”
Agora, a palavra está com o Ministro Camilo Santana. A população do Marajó aguarda se o clamor por justiça educacional será ouvido em Brasília.